segunda-feira, 22 de abril de 2013

Introdução ao Terceiro Estágio

No terceiro estágio, fizemos um estudo sobre a vida da sociedade medieval francesa com base no filme "O Retorno de Martin Guerre" (título original: Le Retour de Martin Guerre), de 1982, do diretor Daniel Vigne e com o renomado ator Gérard DePardieu, como o protagonista do filme. A história do filme nos revela as ações e as atitudes de duas classes medievais: os camponeses e o clero. O filme é mais um instrumento de estudo importante, pois nos ajuda a imaginar e ver como as coisas são, então assim como os outros, O Retorno de Martin Guerre nos transporta exatamente para essa época medieval francesa e todas as problemáticas existentes nesse tempo.


O Retorno de Martin Guerre

Martin Guerre nasceu por volta de 1524, na cidade basca de Hendaye. Em 1527, sua família se mudou para a aldeia de nos Pirinéus, no sudoeste da França. Quando tinha cerca de 14 anos de idade, casou-se com Martin Bertrande de Rols, filha de uma família abastada. Acusado de roubar grãos de seu pai, Martin desaparece abruptamente em 1548. No verão de 1556, um homem chega na aldeia afirmando ser Martin Guerre. Por sua aparência semelhante e conhecimento detalhado da vida de Guerra, ele convenceu a maioria dos moradores. 

O tio de Martin Guerre e quatro irmãs, bem como sua esposa, a princípio acreditaram que fosse. Martin viveu por três anos com Bertrande e seu filho, e nesse tempo tiveram mais dois filhos juntos. Foi então que Martin reivindicou de seu tio Pierre Guerre de Guerra a herança de seu pai morto, com a recusa do tio, ele o processa. 

Então um soldado que por lá passava afirmou que o homem era uma fraude: ele disse que o verdadeiro Martin perdeu uma perna na guerra. Pierre começa então a suspeitar de seu sobrinho e planeja uma emboscada junto de seus filhos. 

Levado o caso a justiça, Martin é então absorvido das acusações. Pierre Guerre acreditava ter descoberto a identidade do impostor: Arnaud du Tilh, apelidado Pansette, um homem com uma má reputação da cidade vizinha de Tilh, na área de Sajas. Pierre iniciou um novo processo contra o homem por falsa alegação para agir em nome de Bertrande (apenas a esposa injustiçada poderia trazer a seguir). Ele pressiona a esposa de Martin, que acaba por ceder.

Em 1560, o caso foi julgado em Rieux. Bertrande que testemunhou na primeira vez honestamente continuava afirmando ser aquele seu marido. Quando o julgamento estava quase encerrado, com vitória de Martin, aparece um elemento surpresa: só assistindo para saber...



Referências Bibliográficas:

A visão da Oficina 3 sobre o filme

O filme ‘’O Retorno de Martin Guerre’’ busca fazer uma abordagem histórica da França Medieval, a partir de uma história real, relatada no livro da autora Natalie Zemon Davis. O filme traz a narrativa da história de um homem, que retorna para sua vila depois de anos desaparecido, mas que com o passar do tempo sua família começa a suspeitar de sua real identidade.

Podemos analisar no filme a existência, nas vilas e povoados da França Medieval, da arquitetura vernacular, dada por casas feitas de materiais como taipa, palha, pedra e madeira, denotando um local simples de donos pouco abastados, casas, visando a moradia e não a estética, possuindo ruelas e becos como acessos. Nessas vilas, as atividades comuns eram, para as mulheres, afazeres domésticos como lavagem de roupa (feita coletivamente em um local especifico para isso) limpar a casa, cuidar dos filhos, cozinhar, já o homem era responsável pelo plantio e colheita de cevada, trigo e uva (no caso).  


 Exemplo de Arquitetura Vernacular mostrada no filme.
Fonte:  Imagem retirada diretamente do filme.

Nas casas moravam muitas pessoas, todo e qualquer parente, o chefe seria o patriarca o homem da casa mais velho. Notamos que, nos vilarejos não existia privacidade, todos sabiam da vida de cada um que ali habitavam, (no filme todos sabem que Martim é impotente, e eles agem como se isso afetassem toda a vila). As casas também tinham espaços onde os “vagabundos” (migrantes sem rumo) poderiam descansar e comer durante uma noite.

Núcleo familiar concentrado numa só casa.
Fonte: Imagem retirada diretamente do filme.

É bastante importante frisar o fato da forma em que o filme retrata a sociedade da época, onde os camponeses não tinham acesso a leitura (visto no momento em que Martin Guerre diz que voltou sabendo ler e escrever, causando espanto entre os moradores da vila), viviam regrados pelos dizeres da Igreja e da religião. Em contradição a essa ignorância mostrada pelos camponeses, o filme retrata a sabedoria e os estudos feitos pelos padres e bispos, que controlavam quem vivia, quem morria, quem casava, quem se separava, etc.


Já na cidade, encontramos bem claro, traços de uma arquitetura voltada exclusivamente para o poderio religioso e/ou monárquico. A arquitetura gótica, estilo nascido na própria França,  é bem representada no cenário do filme, vistos em arcos góticos, estruturas aparente, grandes aberturas, pé direito muito alto, principalmente nas construções religiosas, pois como sabemos a Igreja era a representação do poder econômico, social, jurídico, e retentora do saber, por isso grandiosas construções dos templos para denotar tal imagem imposta por ela.

Exemplo de Arquitetura Gótica ao fundo, através das janelas com arcos pontudos.
Fonte: Imagem retirada diretamente do filme.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Introdução ao Segundo Estágio

Como estudado nesse estágio, analisamos o texto Por Amor Às Cidades, do historiador francês Jacques Le Goff. Le Goff em seu livro mostra as realidade da sociedade medieval, suas relações de conforto e senhorio, o que tinha dentro de suas muralhas e como se comportava entre outras realidade. Ele exemplificou conforme sua linda Paris, berço de uma sociedade medieval onde o mercado de trocas é fortemente visto. Sem mais delongas, apreciem todo o estudo relacionado a essa unidade.

Um Pouco Sobre Jacques Le Goff



O historiador francês Jacques Le Goff nasceu em Toulon, no dia primeiro de janeiro de 1924. Especialista em Idade Média realizou importantes estudos a respeito da Antropologia histórica do Ocidente medieval. Le Goff renovou a pesquisa histórica sobre mentalidade e Antropologia da Idade Média, principalmente nos anos 80 do século XX, quando trabalhou em uma biografia da São Luís publicada em 1996. Dentre outros trabalhos, Le Goff é autor dos livros Mercadores e Banqueiros na Idade Média, O Nascimento do Purgatório, O Imaginário Medieval, História e Memória, História Religiosa da França (em parceria com René Remond), O Homem Medieval, A Europa Contada aos Jovens, Por Amor das Cidades, A Bolsa e a Vida, Dicionário Temático da Idade Média (em parceria com Jean-Claude Schmitt), O Deus da Idade Média, O Maravilhoso e o Quotidiano no Ocidente Medieval e São Francisco de Assis. Para Le Goff, a História não é uma ciência como as outras. Palavra de etimologia grega, Historie significa inicialmente procurar, mas também testemunha, aquele que vê, aquele que sabe.


Cidade das Trocas


Fazendo uma comparação entre as cidades antigas e as cidades medievais, o autor revela que há poucas semelhanças entre ambas. A cidade medieval aboliu monumentos antigos para suas novas construções com base na nova visão imposta pelo cristianismo. Abona-se também os espaços públicos onde o homem podia discutir em conjunto os negócios da cidade, isso passou a ser feito na igreja, contudo os mercados assumiram posteriormente o papel das praças.


Em primeiro lugar, o templo. Curiosamente, não é mais isso que distingue a cidade medieval da cidade antiga, porque muitas vezes ou o templo foi reutilizado como igreja, ou então a igreja cristã foi construída sobre o local do templo. [...]
As termas desaparecem, já que se estabelece uma nova relação com o corpo, assim como novas formas de higiene e de sociabilidade.
Jacques Le Goff, Por Amor às cidades. p. 9 e 10



Começa-se a usar o termo “Ville” para designar a unidade urbana, pois, antes dos séc. XI e XII, uma vila era um estabelecimento rural. A vila era o centro de um grande domínio. Dentro da vila tem-se um prédio principal, pertencente ao senhor, que é o centro do poder e as terras ao seu redor “pertenciam” aos camponeses. Na Idade Média, a cidade obtém o poder novo sobre um setor que depende dela. Surgem os burgos periféricos que “alimentavam” um núcleo central composto por um senhor feudal (episcopal ou leigo).

Surge então, da relação entre a cidade e seus subúrbios, alguns grupos que buscam dar exemplos de humildade e pobreza, os mendicantes, franciscanos e dominicanos. Eles se estabeleciam nos limites das cidades, perto das muralhas (dentro ou fora), em lotes doados de coração. Com o tempo, eles tornam-se conhecidos e pouco a pouco adentram ao centro da cidade.

A cidade contemporânea assemelha-se mais com a cidade da idade média do que a cidade da idade média assemelha-se com a cidade antiga. Na cidade medieval, concentrada em pequenos espaços, surge um novo sistema de valores oriundo da prática da divisão do trabalho, juntamente com o ideal de igualdade.

Em pleno séc. XIII, menos de 20% da população do ocidente residia nas cidades, sendo Paris o maior aglomerado, isso se deve a uma parte da população parisiense ser de origem rural e a outra parte de uma aristocracia. Essa Paris se divide em 3 espaços: o econômico voltado para os mercados construídos e com o porto (todo o comércio era fluvial, sendo que tinha um comércio de mão-de-obra também); o político, concentrado na figura do rei e do bispo e por fim do parlamento; o universitário, o escolar, o intelectual.

Pensando além de Paris, define-se que as funções essências das cidades são a troca, a informação, a vida cultural e o poder. Mas a pesar de tudo persiste uma atividade rural na cidade e que pode ser retomada com facilidade.


As cidades medievais tinham em sua essência a troca, as feiras e os mercados eram sinais de modernização e troca. Não se pode deixar de falar em moeda, em dinheiro. Isso é totalmente ligado à cidade, pois o camponês muito raramente é levado a comprar coisas as quais precisasse.

Surge disso, os banqueiros (pessoas que faziam operações simples de câmbio de moedas), como os judeus que ganharam destaque pelos seus investimentos em empréstimos à juros. Porém, os judeus são expulsos das cidades e perdem suas funções, exceto a de simples credor.

Empregos permanentes ocupavam 30% dos trabalhos, os outros 70% eram de mercado quase diarista. O camponês era desvalorizado, pois eram os últimos a se deixarem cristianizar, eram homens fadados a trabalhar para suprir o pecado original (Ideia mudada no séc. IX por monges).

Devido a esse tipo, a cidade atrai muita gente, desde ladrões (devido ao comércio portuário) até migrantes que, quando especializados eram bem quistos, quando não, preferem ficar nas cidades que voltar para o campo.

Mas a cidade não é só trabalho, o teatro ressurge de forma litúrgica, com uma vez ou outra voltada para comédias latinas, extintas no séc. XIII. As festas, essencialmente religiosas, têm uma dupla função: a glorificação de Deus e o repouso. O carnaval surge em contraposição a quaresma.

Para concluir, surgem as universidades, dotadas de mestres e alunos e as formas corporativas que permitiam sua existência. Uma universidade completa constituía de 4 faculdades: as artes; as letras e ciências; a medicina; o direito (civil e canônico) e teologia. A universidade era/é um bom negócio para a cidade, pois fornece um mercado (estudantes de pequena nobreza) e inquilinos para as casas. O papel das universidade era muito limitado à ideologia da Igreja, mas ainda assim haviam alguns relutantes.


FONTE: GOFF, Le Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Unesp, 1998.

por: Sanderson Cabral

O poder na cidade, O ideal do bom governo.


Sistema Feudal


Na idade média havia um senhor na cidade conhecido como senhor feudal, e esse senhor, com frequência, era o bispo, que, desde a dissolução do Império Romano, entre os séculos IV e VI, dispunha do poder, das riquezas e do prestígio. O senhor feudal se instalava em um castelo, caracterizado como local de controle do feudo.

Inicialmente, as cidades eram protegidas por grandes muros, formando os burgos, que eram os centros comerciais. No entanto, com o crescimento populacional consequentemente o comércio aumentou e os burgos excederam os limites dos muros.

No século XI, as cidades já apresentavam poder e uma grande influência econômica, assim os burgueses começaram a lutar pela sua autonomia em relação ao feudo, surgindo o movimento comunal.

As cidades passaram a ser conhecidas como cidades francas, quando os senhores feudais a partir de um acordo deixaram de exigir o pagamento abusivo de impostos, tornando-se às cidades livres do domínio feudal. Porém, alguns senhores não seguiram esse acordo e então se iniciou um confronto, passando assim essas cidades a serem chamadas de comunas.

Movimento comunal

Movimento que surgiu na idade média a partir da força e aspirações dos mercadores e dos artesãos, assim como pela busca da liberdade econômica. Esse movimento configurou a tomada do poder dos senhores feudal pela burguesia e a consagração da mesma. O novo governo burguês se comportava a imagem dos clãs familiares, num espaço onde as experiências políticas podiam ser diversificadas, tentava-se também estabelecer uma relação de respeito mutuo com a igreja para a qual a cidade se colocava a serviço.

As revoltas urbanas surgiram como resposta à indignação dos pobres e reformadores, contra a corrupção e a coleta abusiva de impostos e a quebra do princípio básico de igualdade. A violência da "revolução comunal" foi uma resposta à violência feudal.

Muitas vezes a passagem do governo para a burguesia se dava de forma violenta tendo o exemplo da cidade francesa de Laon no início do século XII onde a narrativa mostra o bispo fugindo dos rebelados, entrando no pátio de um prédio da cidade, escondendo-se dentro de um barril; ele é descoberto, arrastado para a rua, assassinado cortam-lhe o dedo que levava o anel, tomado como símbolo não de sua função religiosa, mas de seu poder temporal, e seu corpo é transportado pela cidade exibindo-se o dedo com o anel.


Governo Burguês

Com a saída do campo para a cidade, o modo de vida e o comportamento das famílias começam a mudar. Com o desenvolvimento urbano surge a família nuclear, composta apenas por pais e filhos. Desfavorecendo a família ampliada, que é aquela caracterizada pelo campo, feudalidade, em que vivem juntos os filhos, os parentes, diversas gerações. Assim desenvolve-se a partir dos séculos XII-XIII o tema da sagrada família. As casas urbanas agora são feitas para famílias nucleares que são as células da cidade.

Na Idade Média as pessoas que viviam sozinhas (celibatários) eram excluídas da sociedade, eram pouco numerosos e considerados suspeitos e deviam juntar-se a igreja. O celibatário leigo tinha uma vida muito difícil e era mal visto.

A população vivente da época começa agora com a difusão das ideias aristotélicas entre as pessoas mais cultas e os clérigos, a constituir uma oposição entre o bom e o mau governo.

Fica claro que agora é preciso não só o modelo da família harmoniosa, mas também, aquele do príncipe justo seguindo duas palavras de ordem: paz e justiça. O bom governo deve fazer funcionar enfim, instituições relativamente igualitárias e democráticas. É preciso essencialmente evitar-se uma família que se sobressaia em relação às outras, um citadino, que domine e tiranize os outros.

FONTE: GOFF, Le Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Unesp, 1998.

Entre o decorrer dos séculos, principalmente o século XIV, ocorreram várias revoltas urbanas nas cidades tidas como cristãs, revoltas essas que ocorreram em Castela, Inglaterra, na Itália e na França, sobretudo em Paris. Onde podemos exemplificar as revoltas do cabochiano, revolta dos ciompi.

Os movimentos protestam contra uma evolução que combina a influência de dois poderes de origem distinta, mas que se combina com frequência. O poder do príncipe ou do rei: o rei quer reduzir a cidade à obediência de todos seus súditos e que não reconhece os privilégios, isenções das cidades. Promoção de certas famílias no interior das cidades que rompem o primitivo contrato comunal de igualdade.

Toda a problemática das cidades medievais acarretou em um reinado totalmente dominado pela corrupção, tendo esta se estendido pelo renascimento. Na cidade de Paris o rei São Luís combateu a corrupção criando um plano para a descoberta dos corruptos de seu governo quando ele foi para a cruzada de 1427. Para todo o reino, enviou inquiridores, normalmente religiosos mendicantes para assim poder levantar os casos de injustiça ocorrentes no reino (Os historiadores não exploraram de forma suficiente esses relatos).

Cidade medieval

Na idade média assim como na idade contemporânea existia a especulação imobiliária, onde quanto maior a proximidade de certos conventos de prestigiadas ordens mendicantes, mais altos serão os preços dos terrenos locais, em nível de comparação, na sociedade moderna quanto maior a proximidade do centro mais caro será o metro quadrado do terreno.

Percebesse que a diferenciação entre de bairros pobres, ou de classe média, ou bairros de ricos, já estava definida na Idade Média, assim como hoje. As localidades eram diferenciadas pela variação dos preços e consequentemente da população residente.

Na idade média havia uma definição de preço justo, o preço de mercado o qual a igreja abdicou diante do mercado.


O príncipe impõe à cidade a forma mais adequada a duas de suas preocupações, sendo uma de ordem militar e a outra de ordem estético-ideológica. Atribuem-se assim a construção de muralhas e o uso de pedras, sendo que a cidade também deve atender uma imagem de ordem. A forma urbana definida em xadrez, com ruas que se cortam em ângulos retos, atribuído a Milet, e o circular. Outro modelo utilizado foi o da estrela, militarmente bem protegida, com muitos ângulos mortos inatingíveis, ela também implica uma ideia de ordenamento.

As cidades passam por uma grande ordem de regulamentação de higiene que se multiplicam pelas cidades, a partir do século XII. Em Paris o rei Luiz VI proíbe que animais perambulem pela cidade, após a morte de seu filho primogênito, que sofreu um acidente andando de cavalo após um porco perdido fazer a montaria tropeçar em uma viela parisiense.

Outro fator importante das cidades medievais foi à difusão da arte gótica e do pensamento escolástico que acabaram por se  desenvolver. A construção da igreja de Saint-Denis consagra a arte gótica na época dos reinados de Luís VI e Luís VII. A inovação se propaga em quase toda rede de igrejas.

A arte gótica e a escolástica se estabelecem como novas escolas urbanas, onde se define como base a razão e a matemática, ordem e luz, cor e verticalidade.

FONTES: GOFF, Le Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Unesp, 1998.


por: Hilton Messias

A Cidade Em Segurança, Os bens protegidos e os bens comuns


A cidade na Idade média, com suas ruas estreitas que sempre conduziam a uma grande praça (“Aquilo que não são sempre as ruelas sombrias, estreitas, sujas. Alberto, o Grande, compara as ruelas ao inferno, porém elas desembocam em praças que são o paraíso.” LE GOFF,1998), e com sua série de torres, era sinônimo de segurança. Uma necessidade e uma preocupação comum, não só dos pobres cidatinos, mas também da igreja e até dos jovens guerreiros, que de certa f;orma já estavam acostumados com a violência. E isso podia se observar na própria estrutura da cidade pela presença das grandes muralhas que a circundavam.



Com isso, acontece nas cidades medievais praticamente a mesma coisa que aconteceu na Grécia, que confiou o policiamento às classes de certa forma menosprezadas, como por exemplo os arqueiros, que eram vistos como guerreiros ignóbios.

Mas, dentre as atitudes violentas, o roubo era um dos mais temidos e considerado um ato muito grave (duramente punido). O medo da perda de bens da população era tamanho que durante muito tempo o móvel essencial das casas era o cofre, onde se guardava desde objetos muito valiosos até simples vestimentas.

A idade média também foi marcada por epidemias, que foram responsáveis por muitas mortes. Na época surgiram os chamados hôtels-Dieu, que eram asilos ou hospitais dirigidos pela igreja, que na época transmitia para os cristãos e cidatinos a idéia da misericórdia e da caridade. Como na época não haviam tratamentos adequados, era muito difícil curar os doentes, que logo ficavam desempregados e consequentemente pobres. ”De início, na Idade Média, não se sabe curar os doentes e, portanto, liberá-los. Não há médicos bastantes e com conhecimentos suficientes, não há equipamentos. Dois tipos de tratamentos fundamentais são desde logo realizados em quase todos os casos: de um lado, praticar a sangria, e, de outro, examinar as urinas... Ficar doente é um desastre para o homem, a mulher ou a criança, e quase que inevitavelmente esse doente se torna pobre e dependente, quando escapa à morte.” (LE GOFF, 1998). Umas dessas doenças infecciosas era a lepra, e o fato de na época já se saber que era contagiosa, fez surgir as casas para leprosos, os chamados leprosários, que em geral ficavam fora das cidades.


Apesar de serem responsáveis por cuidar do único meio de subsistência da época, a terra, os camponeses na idade média eram menosprezados. Como já foi dito, nesse período se difundia, pela igreja, a prática da caridade e da misericórdia, e até nesse ponto os camponeses eram considerados menores. Achava-se que eram pouco capazes ou pouco responsáveis pela caridade, e esse “trabalho” deveria ficar para os cidatinos, os cristãos melhores.


FONTE: GOFF, Le Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Unesp, 1998.

por: Emizael Marcos

O Orgulho Da Cidade, Urbanismo e invenção da beleza


Continuando com a comparação da cidade medieval com a cidade contemporânea, se faz uma pergunta. Em que sentido a cidade é sinônimo de sociabilidade?(embora, tenha se tornado hoje sinônimo de individualismo e de anonimato) Le Goff nos mostra que na Idade Média existia uma “separação” da cidade, dita civilizada e em ordem, do campo, colocado como local de rusticidade. E com essa ideia de cidade, surgiu um desejo de construção em direção ao céu, partindo disso, o livro nos mostra uma comparação de obras arquitetônicas de épocas diferentes, mas que em ambas nota-se, uma verticalidade bem definida, as torres medievais de San Gimignano na Itália, com a verticalidade da cidade atual de Manhattan.

Com tantas peculiaridades, a Idade Media desenvolveu uma beleza artística urbana própria, que deu origem ao que podemos denominar novo urbanismo, entretanto essa cidade medieval possuía outro lado.

Começou a se criticar (principalmente os religiosos) a cidade que diferente da cidade atual, não se preocupava com a sua conservação, porém, existia uma espécie de orgulho urbano que os moradores dessas cidades desenvolveram a partir de uma sobreposição do que se tinha como cidade ideal (sonhada e imposta pelos detentores do poder) e a cidade real.
Nessa época, ocorria uma super Valorização das terras e dos imóveis que ficavam “protegidos” pelas muralhas, e essa ideia de cidade sonhada, trouxe consigo uma visão da cidade como lugar de beleza e prazer, onde seus habitantes cada vez mais exaltam as qualidades dessa dita cidade.

No livro mostra um exemplo dessa forma de visão, uma carta da Universidade de Toulouse com a intenção de mostrar o que seria atrativo na cidade paras as pessoas que ali viviam que a cidade tinha um ar mais puro, que existia uma preocupação com a higiene, que tinha água em abundância, mercados sempre abastecidos e mulheres boas e calmas, ou seja, em resumo a ideia deles era que Toulouse era uma cidade ótima de se viver, oferecendo diversão, um local de sociabilidade.

“É a sociabilidade, o prazer de estar com o outro, que estabelece em definitivo, a diferença urbana, a urbanidade”.

Se analisarmos as sociedades mais antigas, como por exemplo, Roma, nota-se que desde esta época criou-se, do ponto de vista cultural, um contraste acentuado entre cidade e o campo, e a partir disso, surgiu os termos que referem-se à cidade como lugar de educação, cultura, elegância e dos “bons costumes” .

A palavra urbanidade vem do latim: urbs polis, da polis grega.

Essa visão de menosprezo pelo o que é do campo, colocando-o como lugar bárbaro, rustico reforçando de forma ativa a ideia de que os camponeses seriam rudes e até mesmo pessoas ricas, como os senhores feudais, que preferissem o campo á cidade são ditos bárbaros, tudo isso denota traços de uma herança de povos antigos de origem latina. Em meio a isso surge mais uma variável de oposição cidade-campo, a floresta, que seria pensado como um lugar mais selvagem e hostil que o campo, pois apesar de tudo, o Campo ao menos era habitado, existe de certa forma uma visão, que o campo seria o reflexo da cidade, já que a mesma domina o campo (economicamente) já pensando na floresta essa relação não existe, posto como um lugar irredutível, local de bandidos e sinônimo de solidão.

Le Goff nos mostra que é perceptível também que, o cristianismo na Idade Média era bastante instável, variando sua visão da cidade entre ser um polo de radicalidade solidária entre um polo de civilização, pois nota-se que por anos a operação mais inovadora das tais cidades, seria sua função cultural, que engloba escolas, as artes, o urbanismo. Como é posto no livro: “...é na cidade e da cidade que eles irradiam.” Deixando claro que a cidade adotou essa função cultural  desde do tempo Medieval até os dias atuais, mesmo que atualmente se tenha uma certa competição para se ter essa responsabilidade, entre as cidades e os lugares extra urbanos.

A próxima pergunta apresentada a Le Goff, seria como a pintura nessa época era representada, visto que tudo era controlado por ordens mendicantes, o mesmo responde que  a representação das pinturas se dava pelo o imaginário do artista, como era de costume, representando os diversos lugares e afins de forma positiva.

Mostrou-nos esse quadro do pintor Ambrosio Lorenzetti de 1346, o qual simboliza a cidade ideal, imaginada pelo povo da época, esse quadro é considerado a primeira representação de uma paisagem urbana. Percebemos nesse quadro que o pintor cria uma cidade com uma estrutura com predominância de linhas retas e planos geométricos, com características arquitetônicas do estilo gótico, estilo este que ficou conhecido como a arte das catedrais retratando o desenvolvimento das cidades.


Percebemos então que, nas cidades atuais, perpetuamos poucos traços das cidades medievais, de forma direta, mas herdamos a ideia de veduta, ou seja, o panorama urbano, cada coisa possui não apenas uma representação, mas também vistas de uma mesma cidade.

Quando perguntado sobre se trata-se de uma dificuldade em dominar a perspectiva, o fato da imagem que a Idade Média  dá de suas cidades, serem normalmente estendidas para o alto, Le Goff diz que não pretende construir uma historia preconceituosa em relação as sensibilidades, mas sim recordar do orgulho urbano Medieval contido nessa necessidade de subir, principalmente as catedrais, mostrando desta forma seu domínio sobre a cidade, expressado não apenas de forma física mas também de forma cultural e econômica na cidade.

O autor complementa dizendo na antiguidade a orientação fundamental do espaço, se dava por dois lados (direito e esquerdo) e que sendo considerado o lado direito mais correto e representado, e que na Idade Média, esse eixo de representação fundamental de orientação se dá de baixo para cima, enfatizando cada vez mais a ideia de chegar a Deus não apenas por meio da fé, mas também com construções cada vez mais altas.

A sonhada cidade medieval ideal, vista como imagem, da forma real que a vemos, de modo prioritário na pintura, seria a cidade atual de Manhathan.

Esse ideal de cidade trás consigo uma necessidade que as famílias ricas da época desenvolveram principalmente nas cidades onda a nobreza estava, que seria possuir a torre mais alta do que as dos outros, sendo esse fato status de poder, assim como ocorre nas cidades atuais como Manhathan, realizando deste modo uma forma das mais poderosas da imaginação medieval: a verticalidade.

A cidade Medieval cresceu em altura, mas também, existiam construções subterrâneas como no caso de Paris que era construída sobre a exploração e a escavação de jazidas. Logo no começo do século XIV, as pessoas mais ricas eram os detentores dessas jazidas e pedreiras subterrâneas.

Vale salientar que, esses subterrâneos tinham usos variados, não apenas do tipo troglodita, sendo construídas nesses locais até capelas.

Existia uma ambiguidade em certos conceitos difundidos nas cidades Medievais, depois da associação das alturas das construções com a sua proximidade com Deus, percebe-se também que, a cidade pode ser um lugar que agrade também ao demônio.

O livro nos trás posteriormente que a cidade pode ser comparada com Sodoma e Gomorra.

Para o povo do medieval, sua imaginação urbana percorria a imagem de Jerusalém, a dita cidade “boa”, e pela Babilônia, a cidade “má”.

Le Goff diz que a ideia de que os camponeses pudessem se revoltar contra a ordem da cidade não se encaixa, porque nessa época não se media a exploração econômica da cidade sobre o campo, pois quando camponeses revoltosos, por motivos rotineiros ou não, queriam mudar algo, falavam diretamente com o burguês “progressista” e resolviam seus impasses antes mesmo que tal problema chegasse aos ouvidos dos demais, e interferisse na ordem e no modo de organização das cidades.

Quando se é perguntado se a critica da cidade apenas era feita de cunho “espiritual”, Le Goff comenta que essas criticas eram feitas sim com caráter religioso. A igreja via a cidade como algo profano que consumia as virtudes espirituais principalmente dos representantes da igreja como, por exemplo, São Martinho que frequentava periodicamente o monastério afastado da cidade para “repor as energias”. Essa forma de visão era bem difundida pela elite Medieval.
Quando perguntado sobre quando se formou a ideia de percepção da cidade como algo que deveria ser preservado, como testemunha da harmonia e que deveria ser conservado, Le Goff nos mostra que a mentalidade do medieval era diferente do que temos hoje sobre patrimônio, lá não se via a demolição de algo como punição, mas sim como uma mudança, aliás, a cidade medieval vivia sendo alterada, dita lugar de renovação, colocado como otimismo dinâmico urbano, “... a cidade é um lugar em que mais se constrói, do que se conserva ou se destrói”. Isso se deve ao fato que as pessoas dessa época não estarem tão apegadas na aparência das cidades, porque eles viviam em constante mudança. A renovação das cidades era diretamente ligada na renovação da população urbana.

Essa ideia de preservação do patrimônio histórico se deu muito depois, essa inquietação sobre o futuro e sobre o que é ou não importante para ser conservado, é uma invenção da modernidade


FONTES: GOFF, Le Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Unesp, 1998.

A formação do prodessor de história: idade média e imagens. Disponível em: http://www.ppe.uem.br/jeam/anais/2008/pdf/c010.pdf

por: Maria Rita Abreu

O Fim das Cidades Ou as Cidades sem fim



Se analisarmos o verdadeiro significado das cidades através dos séculos, podemos perceber que esse não só vêm mudando quanto eles possuem o papel de alterar o modo de pensar de toda a sociedade, as cidades em si é o pressuposto das relações sociais e é em seu estudo que podemos definir o que realmente demanda a sociedade contemporânea. As cidades atuais se desprendem das definições tradicionais e as antigas cidades, principalmente as cidades medievais estão sendo incorporadas ao sinônimo de patrimônios.



As cidades na atualidade se concentram na interfase entre os seus antigos significados e os atuais. Para termos melhor noção precisamos entender que as cidades medievais eram firmadas em uma função primordial que seria a absoluta segurança de sua população, o que se explica elas serem cercadas de grandes e densas muralhas, além de seu centro urbano ter uma função bem definida, a de relações socioeconômicas, e assim as cidades eram unas com sua população, pois possuíam apenas um único ponto o qual fazia total comunicação entre a malha urbana. 


As cidades agora se tornaram palco do capitalismo, do centro monetário e do poder político, pois ao se voltar ao passado conseguiu-se perceber que a relação política da sociedade medieval era em sua totalidade desmembrado das grandes cites, o que remete aos palácios e castelos, os fortes, locais próprios aos governantes. 


Em contrapartida podemos citar as grandes metrópoles americanas como Chicago a cidade do México, São Paulo que já foram comprovadas serem grandes centros e representantes do capitalismo e que essa cidade teve seu centro dissociado em subprodutos para atender a essa nova função, apesar dessas cidades serem alvo de um árduo planejamento sejam eles voltados simplesmente de como melhor distribuir a malha urbana, elas se tornam mais ilegíveis que as cidades medievais e há como diferença entre esses dois tipos de cidades é que a medieval é em sua bastante diversificada ao contrário das contemporâneas, pois suas únicas diferenças seriam à mudança nos preços de seus produtos e dos serviços que essas cidades têm a oferecer. 



Esse crescimento descomunal das cidades atuais vem não só devastando os centros das relações sociais, mas também as formas de comunicação entre o espaço urbano e o espaço natural, de modo geral não se sabe se é a cidade que invadiu a natureza ou a natureza invadiu as cidades e é com esses pressupostos que conseguimos perceber e concluir quais as verdadeiras intenções que as cidades nos remetem, quais suas principais dificuldades e como enfim resolvê-los. 


FONTE: GOFF, Le Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Unesp, 1998.

por: Rafael Gonçalves