segunda-feira, 18 de março de 2013

Cidade das Trocas


Fazendo uma comparação entre as cidades antigas e as cidades medievais, o autor revela que há poucas semelhanças entre ambas. A cidade medieval aboliu monumentos antigos para suas novas construções com base na nova visão imposta pelo cristianismo. Abona-se também os espaços públicos onde o homem podia discutir em conjunto os negócios da cidade, isso passou a ser feito na igreja, contudo os mercados assumiram posteriormente o papel das praças.


Em primeiro lugar, o templo. Curiosamente, não é mais isso que distingue a cidade medieval da cidade antiga, porque muitas vezes ou o templo foi reutilizado como igreja, ou então a igreja cristã foi construída sobre o local do templo. [...]
As termas desaparecem, já que se estabelece uma nova relação com o corpo, assim como novas formas de higiene e de sociabilidade.
Jacques Le Goff, Por Amor às cidades. p. 9 e 10



Começa-se a usar o termo “Ville” para designar a unidade urbana, pois, antes dos séc. XI e XII, uma vila era um estabelecimento rural. A vila era o centro de um grande domínio. Dentro da vila tem-se um prédio principal, pertencente ao senhor, que é o centro do poder e as terras ao seu redor “pertenciam” aos camponeses. Na Idade Média, a cidade obtém o poder novo sobre um setor que depende dela. Surgem os burgos periféricos que “alimentavam” um núcleo central composto por um senhor feudal (episcopal ou leigo).

Surge então, da relação entre a cidade e seus subúrbios, alguns grupos que buscam dar exemplos de humildade e pobreza, os mendicantes, franciscanos e dominicanos. Eles se estabeleciam nos limites das cidades, perto das muralhas (dentro ou fora), em lotes doados de coração. Com o tempo, eles tornam-se conhecidos e pouco a pouco adentram ao centro da cidade.

A cidade contemporânea assemelha-se mais com a cidade da idade média do que a cidade da idade média assemelha-se com a cidade antiga. Na cidade medieval, concentrada em pequenos espaços, surge um novo sistema de valores oriundo da prática da divisão do trabalho, juntamente com o ideal de igualdade.

Em pleno séc. XIII, menos de 20% da população do ocidente residia nas cidades, sendo Paris o maior aglomerado, isso se deve a uma parte da população parisiense ser de origem rural e a outra parte de uma aristocracia. Essa Paris se divide em 3 espaços: o econômico voltado para os mercados construídos e com o porto (todo o comércio era fluvial, sendo que tinha um comércio de mão-de-obra também); o político, concentrado na figura do rei e do bispo e por fim do parlamento; o universitário, o escolar, o intelectual.

Pensando além de Paris, define-se que as funções essências das cidades são a troca, a informação, a vida cultural e o poder. Mas a pesar de tudo persiste uma atividade rural na cidade e que pode ser retomada com facilidade.


As cidades medievais tinham em sua essência a troca, as feiras e os mercados eram sinais de modernização e troca. Não se pode deixar de falar em moeda, em dinheiro. Isso é totalmente ligado à cidade, pois o camponês muito raramente é levado a comprar coisas as quais precisasse.

Surge disso, os banqueiros (pessoas que faziam operações simples de câmbio de moedas), como os judeus que ganharam destaque pelos seus investimentos em empréstimos à juros. Porém, os judeus são expulsos das cidades e perdem suas funções, exceto a de simples credor.

Empregos permanentes ocupavam 30% dos trabalhos, os outros 70% eram de mercado quase diarista. O camponês era desvalorizado, pois eram os últimos a se deixarem cristianizar, eram homens fadados a trabalhar para suprir o pecado original (Ideia mudada no séc. IX por monges).

Devido a esse tipo, a cidade atrai muita gente, desde ladrões (devido ao comércio portuário) até migrantes que, quando especializados eram bem quistos, quando não, preferem ficar nas cidades que voltar para o campo.

Mas a cidade não é só trabalho, o teatro ressurge de forma litúrgica, com uma vez ou outra voltada para comédias latinas, extintas no séc. XIII. As festas, essencialmente religiosas, têm uma dupla função: a glorificação de Deus e o repouso. O carnaval surge em contraposição a quaresma.

Para concluir, surgem as universidades, dotadas de mestres e alunos e as formas corporativas que permitiam sua existência. Uma universidade completa constituía de 4 faculdades: as artes; as letras e ciências; a medicina; o direito (civil e canônico) e teologia. A universidade era/é um bom negócio para a cidade, pois fornece um mercado (estudantes de pequena nobreza) e inquilinos para as casas. O papel das universidade era muito limitado à ideologia da Igreja, mas ainda assim haviam alguns relutantes.


FONTE: GOFF, Le Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Unesp, 1998.

por: Sanderson Cabral

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