Fazendo
uma comparação entre as cidades antigas e as cidades medievais, o autor revela
que há poucas semelhanças entre ambas. A cidade medieval aboliu monumentos
antigos para suas novas construções com base na nova visão imposta pelo cristianismo.
Abona-se também os espaços públicos onde o homem podia discutir em conjunto os
negócios da cidade, isso passou a ser feito na igreja, contudo os mercados
assumiram posteriormente o papel das praças.
Em
primeiro lugar, o templo. Curiosamente, não é mais isso que distingue a cidade
medieval da cidade antiga, porque muitas vezes ou o templo foi reutilizado como
igreja, ou então a igreja cristã foi construída sobre o local do templo. [...]
As termas
desaparecem, já que se estabelece uma nova relação com o corpo, assim como
novas formas de higiene e de sociabilidade.
Jacques Le
Goff, Por Amor às cidades. p. 9 e 10
Começa-se
a usar o termo “Ville” para designar
a unidade urbana, pois, antes dos séc. XI e XII, uma vila era um
estabelecimento rural. A vila era o centro de um grande domínio. Dentro da vila
tem-se um prédio principal, pertencente ao senhor, que é o centro do poder e as
terras ao seu redor “pertenciam” aos camponeses. Na Idade Média, a cidade obtém
o poder novo sobre um setor que depende dela. Surgem os burgos periféricos que
“alimentavam” um núcleo central composto por um senhor feudal (episcopal ou
leigo).
Surge
então, da relação entre a cidade e seus subúrbios, alguns grupos que buscam dar
exemplos de humildade e pobreza, os mendicantes, franciscanos e dominicanos.
Eles se estabeleciam nos limites das cidades, perto das muralhas (dentro ou
fora), em lotes doados de coração. Com o tempo, eles tornam-se conhecidos e
pouco a pouco adentram ao centro da cidade.
A
cidade contemporânea assemelha-se mais com a cidade da idade média do que a
cidade da idade média assemelha-se com a cidade antiga. Na cidade medieval,
concentrada em pequenos espaços, surge um novo sistema de valores oriundo da
prática da divisão do trabalho, juntamente com o ideal de igualdade.
Em
pleno séc. XIII, menos de 20% da população do ocidente residia nas cidades,
sendo Paris o maior aglomerado, isso se deve a uma parte da população
parisiense ser de origem rural e a outra parte de uma aristocracia. Essa Paris
se divide em 3 espaços: o econômico
voltado para os mercados construídos e com o porto (todo o comércio era
fluvial, sendo que tinha um comércio de mão-de-obra também); o político, concentrado na figura do rei
e do bispo e por fim do parlamento; o universitário,
o escolar, o intelectual.
Pensando
além de Paris, define-se que as funções essências das cidades são a troca, a informação, a vida cultural e o poder. Mas a pesar de tudo persiste uma atividade rural na cidade
e que pode ser retomada com facilidade.
As
cidades medievais tinham em sua essência a troca, as feiras e os mercados eram
sinais de modernização e troca. Não se pode deixar de falar em moeda, em
dinheiro. Isso é totalmente ligado à cidade, pois o camponês muito raramente é
levado a comprar coisas as quais precisasse.
Surge
disso, os banqueiros (pessoas que faziam operações simples de câmbio de
moedas), como os judeus que ganharam destaque pelos seus investimentos em
empréstimos à juros. Porém, os judeus são expulsos das cidades e perdem suas
funções, exceto a de simples credor.
Empregos
permanentes ocupavam 30% dos trabalhos, os outros 70% eram de mercado quase
diarista. O camponês era desvalorizado, pois eram os últimos a se deixarem
cristianizar, eram homens fadados a trabalhar para suprir o pecado original
(Ideia mudada no séc. IX por monges).
Devido
a esse tipo, a cidade atrai muita gente, desde ladrões (devido ao comércio
portuário) até migrantes que, quando especializados eram bem quistos, quando
não, preferem ficar nas cidades que voltar para o campo.
Mas
a cidade não é só trabalho, o teatro ressurge de forma litúrgica, com uma vez
ou outra voltada para comédias latinas, extintas no séc. XIII. As festas,
essencialmente religiosas, têm uma dupla função: a glorificação de Deus e o
repouso. O carnaval surge em contraposição a quaresma.
Para
concluir, surgem as universidades, dotadas de mestres e alunos e as formas
corporativas que permitiam sua existência. Uma universidade completa constituía
de 4 faculdades: as artes; as letras e ciências; a medicina; o direito (civil e canônico) e teologia.
A universidade era/é um bom negócio para a cidade, pois fornece um mercado
(estudantes de pequena nobreza) e inquilinos para as casas. O papel das
universidade era muito limitado à ideologia da Igreja, mas ainda assim haviam alguns
relutantes.
FONTE: GOFF, Le Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Unesp, 1998.
por: Sanderson Cabral
Nenhum comentário:
Postar um comentário