Como estudado nesse estágio, analisamos o texto Por Amor Às Cidades, do historiador francês Jacques Le Goff. Le Goff em seu livro mostra as realidade da sociedade medieval, suas relações de conforto e senhorio, o que tinha dentro de suas muralhas e como se comportava entre outras realidade. Ele exemplificou conforme sua linda Paris, berço de uma sociedade medieval onde o mercado de trocas é fortemente visto. Sem mais delongas, apreciem todo o estudo relacionado a essa unidade.
segunda-feira, 18 de março de 2013
Um Pouco Sobre Jacques Le Goff
O historiador francês Jacques Le Goff nasceu em Toulon, no dia
primeiro de janeiro de 1924. Especialista em Idade Média realizou importantes
estudos a respeito da Antropologia histórica do Ocidente medieval. Le Goff
renovou a pesquisa histórica sobre mentalidade e Antropologia da Idade Média,
principalmente nos anos 80 do século XX, quando trabalhou em uma biografia da
São Luís publicada em 1996. Dentre outros trabalhos, Le Goff é autor dos livros
Mercadores e Banqueiros na Idade Média, O Nascimento do Purgatório, O
Imaginário Medieval, História e Memória, História Religiosa da França (em
parceria com René Remond), O Homem Medieval, A Europa Contada aos Jovens, Por
Amor das Cidades, A Bolsa e a Vida, Dicionário Temático da Idade Média (em
parceria com Jean-Claude Schmitt), O Deus da Idade Média, O Maravilhoso e o
Quotidiano no Ocidente Medieval e São Francisco de Assis. Para Le Goff, a
História não é uma ciência como as outras. Palavra de etimologia grega,
Historie significa inicialmente procurar, mas também testemunha, aquele que vê,
aquele que sabe.
FONTE: O Historiador Jacques Le Goff. Disponível em: http://cafehistoria.ning.com/group/biografiatrajetriaseprosopografia/forum/topics/o-historiador-jacques-le-goff
Cidade das Trocas
Fazendo
uma comparação entre as cidades antigas e as cidades medievais, o autor revela
que há poucas semelhanças entre ambas. A cidade medieval aboliu monumentos
antigos para suas novas construções com base na nova visão imposta pelo cristianismo.
Abona-se também os espaços públicos onde o homem podia discutir em conjunto os
negócios da cidade, isso passou a ser feito na igreja, contudo os mercados
assumiram posteriormente o papel das praças.
Em
primeiro lugar, o templo. Curiosamente, não é mais isso que distingue a cidade
medieval da cidade antiga, porque muitas vezes ou o templo foi reutilizado como
igreja, ou então a igreja cristã foi construída sobre o local do templo. [...]
As termas
desaparecem, já que se estabelece uma nova relação com o corpo, assim como
novas formas de higiene e de sociabilidade.
Jacques Le
Goff, Por Amor às cidades. p. 9 e 10
Começa-se
a usar o termo “Ville” para designar
a unidade urbana, pois, antes dos séc. XI e XII, uma vila era um
estabelecimento rural. A vila era o centro de um grande domínio. Dentro da vila
tem-se um prédio principal, pertencente ao senhor, que é o centro do poder e as
terras ao seu redor “pertenciam” aos camponeses. Na Idade Média, a cidade obtém
o poder novo sobre um setor que depende dela. Surgem os burgos periféricos que
“alimentavam” um núcleo central composto por um senhor feudal (episcopal ou
leigo).
Surge
então, da relação entre a cidade e seus subúrbios, alguns grupos que buscam dar
exemplos de humildade e pobreza, os mendicantes, franciscanos e dominicanos.
Eles se estabeleciam nos limites das cidades, perto das muralhas (dentro ou
fora), em lotes doados de coração. Com o tempo, eles tornam-se conhecidos e
pouco a pouco adentram ao centro da cidade.
A
cidade contemporânea assemelha-se mais com a cidade da idade média do que a
cidade da idade média assemelha-se com a cidade antiga. Na cidade medieval,
concentrada em pequenos espaços, surge um novo sistema de valores oriundo da
prática da divisão do trabalho, juntamente com o ideal de igualdade.
Em
pleno séc. XIII, menos de 20% da população do ocidente residia nas cidades,
sendo Paris o maior aglomerado, isso se deve a uma parte da população
parisiense ser de origem rural e a outra parte de uma aristocracia. Essa Paris
se divide em 3 espaços: o econômico
voltado para os mercados construídos e com o porto (todo o comércio era
fluvial, sendo que tinha um comércio de mão-de-obra também); o político, concentrado na figura do rei
e do bispo e por fim do parlamento; o universitário,
o escolar, o intelectual.
Pensando
além de Paris, define-se que as funções essências das cidades são a troca, a informação, a vida cultural e o poder. Mas a pesar de tudo persiste uma atividade rural na cidade
e que pode ser retomada com facilidade.
As
cidades medievais tinham em sua essência a troca, as feiras e os mercados eram
sinais de modernização e troca. Não se pode deixar de falar em moeda, em
dinheiro. Isso é totalmente ligado à cidade, pois o camponês muito raramente é
levado a comprar coisas as quais precisasse.
Surge
disso, os banqueiros (pessoas que faziam operações simples de câmbio de
moedas), como os judeus que ganharam destaque pelos seus investimentos em
empréstimos à juros. Porém, os judeus são expulsos das cidades e perdem suas
funções, exceto a de simples credor.
Empregos
permanentes ocupavam 30% dos trabalhos, os outros 70% eram de mercado quase
diarista. O camponês era desvalorizado, pois eram os últimos a se deixarem
cristianizar, eram homens fadados a trabalhar para suprir o pecado original
(Ideia mudada no séc. IX por monges).
Devido
a esse tipo, a cidade atrai muita gente, desde ladrões (devido ao comércio
portuário) até migrantes que, quando especializados eram bem quistos, quando
não, preferem ficar nas cidades que voltar para o campo.
Mas
a cidade não é só trabalho, o teatro ressurge de forma litúrgica, com uma vez
ou outra voltada para comédias latinas, extintas no séc. XIII. As festas,
essencialmente religiosas, têm uma dupla função: a glorificação de Deus e o
repouso. O carnaval surge em contraposição a quaresma.
Para
concluir, surgem as universidades, dotadas de mestres e alunos e as formas
corporativas que permitiam sua existência. Uma universidade completa constituía
de 4 faculdades: as artes; as letras e ciências; a medicina; o direito (civil e canônico) e teologia.
A universidade era/é um bom negócio para a cidade, pois fornece um mercado
(estudantes de pequena nobreza) e inquilinos para as casas. O papel das
universidade era muito limitado à ideologia da Igreja, mas ainda assim haviam alguns
relutantes.
FONTE: GOFF, Le Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Unesp, 1998.
por: Sanderson Cabral
O poder na cidade, O ideal do bom governo.
Sistema Feudal
Na
idade média havia um senhor na cidade conhecido como senhor feudal, e esse
senhor, com frequência, era o bispo, que, desde a dissolução do Império Romano,
entre os séculos IV e VI, dispunha do poder, das riquezas e do prestígio. O
senhor feudal se instalava em um castelo, caracterizado como local de controle
do feudo.
Inicialmente,
as cidades eram protegidas por grandes muros, formando os burgos, que eram os
centros comerciais. No entanto, com o crescimento populacional consequentemente
o comércio aumentou e os burgos excederam os limites dos muros.
No
século XI, as cidades já apresentavam poder e uma grande influência econômica,
assim os burgueses começaram a lutar pela sua autonomia em relação ao feudo,
surgindo o movimento
comunal.
As
cidades passaram a ser conhecidas como cidades francas, quando os senhores
feudais a partir de um acordo deixaram de exigir o pagamento abusivo de
impostos, tornando-se às cidades livres do domínio feudal. Porém, alguns
senhores não seguiram esse acordo e então se iniciou um confronto, passando
assim essas cidades a serem chamadas de comunas.
Movimento comunal
Movimento que surgiu na idade média a partir da
força e aspirações dos mercadores e dos artesãos, assim como pela busca da liberdade
econômica. Esse movimento configurou a tomada do poder dos senhores feudal pela
burguesia e a consagração da mesma. O novo governo burguês se comportava a
imagem dos clãs familiares, num espaço onde as experiências políticas podiam
ser diversificadas, tentava-se também estabelecer uma relação de respeito mutuo
com a igreja para a qual a cidade se colocava a serviço.
As revoltas urbanas surgiram como resposta à
indignação dos pobres e reformadores, contra a corrupção e a coleta abusiva de
impostos e a quebra do princípio básico de igualdade. A violência
da "revolução comunal" foi uma resposta à violência feudal.
Muitas
vezes a passagem do governo para a burguesia se dava de forma violenta tendo o
exemplo da cidade francesa de Laon no início do século XII onde a narrativa mostra o bispo fugindo dos rebelados,
entrando no pátio de um prédio da cidade, escondendo-se dentro de um barril;
ele é descoberto, arrastado para a rua, assassinado cortam-lhe o dedo que
levava o anel, tomado como símbolo não de sua função religiosa, mas de seu
poder temporal, e seu corpo é transportado pela cidade exibindo-se o dedo com o
anel.
Governo Burguês
Com a saída do campo
para a cidade, o modo de vida e o comportamento das famílias começam a mudar.
Com o desenvolvimento urbano surge a família nuclear, composta apenas por pais
e filhos. Desfavorecendo a família ampliada, que é aquela caracterizada pelo campo,
feudalidade, em que vivem juntos os filhos, os parentes, diversas gerações. Assim
desenvolve-se a partir dos séculos XII-XIII o tema da sagrada família. As casas
urbanas agora são feitas para famílias nucleares que são as células da cidade.
Na Idade Média as
pessoas que viviam sozinhas (celibatários) eram excluídas da sociedade, eram
pouco numerosos e considerados suspeitos e deviam juntar-se a igreja. O celibatário
leigo tinha uma vida muito difícil e era mal visto.
A população vivente da
época começa agora com a difusão das ideias aristotélicas entre as pessoas mais
cultas e os clérigos, a constituir uma oposição entre o bom e o mau governo.
Fica claro que agora é
preciso não só o modelo da família harmoniosa, mas também, aquele do príncipe
justo seguindo duas palavras de ordem: paz e justiça. O bom governo deve fazer
funcionar enfim, instituições relativamente igualitárias e democráticas. É
preciso essencialmente evitar-se uma família que se sobressaia em relação às
outras, um citadino, que domine e tiranize os outros.
FONTE: GOFF, Le Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Unesp, 1998.
Entre o decorrer dos séculos, principalmente o século XIV, ocorreram várias revoltas urbanas nas cidades tidas como cristãs, revoltas essas que ocorreram em Castela, Inglaterra, na Itália e na França, sobretudo em Paris. Onde podemos exemplificar as revoltas do cabochiano, revolta dos ciompi.
Os movimentos protestam
contra uma evolução que combina a influência de dois poderes de origem
distinta, mas que se combina com frequência. O poder do príncipe ou do rei: o
rei quer reduzir a cidade à obediência de todos seus súditos e que não
reconhece os privilégios, isenções das cidades. Promoção de certas famílias no
interior das cidades que rompem o primitivo contrato comunal de igualdade.
Toda a problemática das
cidades medievais acarretou em um reinado totalmente dominado pela corrupção,
tendo esta se estendido pelo renascimento. Na cidade de Paris o rei São Luís
combateu a corrupção criando um plano para a descoberta dos corruptos de seu
governo quando ele foi para a cruzada de 1427. Para todo o reino, enviou
inquiridores, normalmente religiosos mendicantes para assim poder levantar os
casos de injustiça ocorrentes no reino (Os historiadores não exploraram de
forma suficiente esses relatos).
Cidade
medieval
Na idade média assim
como na idade contemporânea existia a especulação imobiliária, onde quanto
maior a proximidade de certos conventos de prestigiadas ordens mendicantes,
mais altos serão os preços dos terrenos locais, em nível de comparação, na
sociedade moderna quanto maior a proximidade do centro mais caro será o metro
quadrado do terreno.
Percebesse que a
diferenciação entre de bairros pobres, ou de classe média, ou bairros de ricos,
já estava definida na Idade Média, assim como hoje. As localidades eram
diferenciadas pela variação dos preços e consequentemente da população
residente.
Na idade média havia
uma definição de preço justo, o preço de mercado o qual a igreja abdicou diante
do mercado.
O príncipe impõe à
cidade a forma mais adequada a duas de suas preocupações, sendo uma de ordem
militar e a outra de ordem estético-ideológica. Atribuem-se assim a construção
de muralhas e o uso de pedras, sendo que a cidade também deve atender uma
imagem de ordem. A forma urbana definida em xadrez, com ruas que se cortam em
ângulos retos, atribuído a Milet, e o circular. Outro modelo utilizado foi o da
estrela, militarmente bem protegida, com muitos ângulos mortos inatingíveis,
ela também implica uma ideia de ordenamento.
As cidades passam por
uma grande ordem de regulamentação de higiene que se multiplicam pelas cidades,
a partir do século XII. Em Paris o rei Luiz VI proíbe que animais perambulem
pela cidade, após a morte de seu filho primogênito, que sofreu um acidente
andando de cavalo após um porco perdido fazer a montaria tropeçar em uma viela
parisiense.
Outro fator importante
das cidades medievais foi à difusão da arte gótica e do pensamento escolástico
que acabaram por se desenvolver. A
construção da igreja de Saint-Denis consagra a arte gótica na época dos
reinados de Luís VI e Luís VII. A inovação se propaga em quase toda rede de
igrejas.
A arte gótica e a escolástica
se estabelecem como novas escolas urbanas, onde se define como base a razão e a
matemática, ordem e luz, cor e verticalidade.
FONTES: GOFF, Le Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Unesp, 1998.
O momento Comunal. Disponível em: http://www.colegioweb.com.br/historia/o-movimento-comunal.html
por: Hilton Messias
A Cidade Em Segurança, Os bens protegidos e os bens comuns
A cidade na Idade média, com suas ruas
estreitas que sempre conduziam a uma grande praça (“Aquilo que não são sempre as ruelas sombrias, estreitas, sujas.
Alberto, o Grande, compara as ruelas ao inferno, porém elas desembocam em
praças que são o paraíso.” LE GOFF,1998),
e com sua série de torres, era sinônimo de segurança. Uma necessidade e uma preocupação
comum, não só dos pobres cidatinos, mas também da igreja e até dos jovens
guerreiros, que de certa f;orma já estavam acostumados com a violência. E isso
podia se observar na própria estrutura da cidade pela presença das grandes
muralhas que a circundavam.
Com
isso, acontece nas cidades medievais praticamente a mesma coisa que aconteceu na
Grécia, que confiou o policiamento às classes de certa forma menosprezadas,
como por exemplo os arqueiros, que eram vistos como guerreiros ignóbios.
Mas,
dentre as atitudes violentas, o roubo era um dos mais temidos e considerado um
ato muito grave (duramente punido). O medo da perda de bens da população era
tamanho que durante muito tempo o móvel essencial das casas era o cofre, onde
se guardava desde objetos muito valiosos até simples vestimentas.
A
idade média também foi marcada por epidemias, que foram responsáveis por muitas
mortes. Na época surgiram os chamados hôtels-Dieu,
que eram asilos ou hospitais dirigidos pela igreja, que na época transmitia
para os cristãos e cidatinos a idéia da misericórdia e da caridade. Como na
época não haviam tratamentos adequados, era muito difícil curar os doentes, que
logo ficavam desempregados e consequentemente pobres. ”De início, na Idade Média, não se sabe
curar os doentes e, portanto, liberá-los. Não há médicos bastantes e com
conhecimentos suficientes, não há equipamentos. Dois tipos de tratamentos
fundamentais são desde logo realizados em quase todos os casos: de um lado,
praticar a sangria, e, de outro, examinar as urinas... Ficar doente é um desastre para o homem, a mulher ou a criança, e quase
que inevitavelmente esse doente se torna pobre e dependente, quando escapa à
morte.” (LE GOFF, 1998). Umas dessas doenças infecciosas era a lepra, e o
fato de na época já se saber que era contagiosa, fez surgir as casas para
leprosos, os chamados leprosários, que em geral ficavam fora das cidades.
Apesar de serem responsáveis por cuidar do
único meio de subsistência da época, a terra, os camponeses na idade média eram
menosprezados. Como já foi dito, nesse período se difundia, pela igreja, a prática
da caridade e da misericórdia, e até nesse ponto os camponeses eram
considerados menores. Achava-se que eram pouco capazes ou pouco responsáveis
pela caridade, e esse “trabalho” deveria ficar para os cidatinos, os cristãos
melhores.
FONTE: GOFF, Le Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Unesp, 1998.
por: Emizael Marcos
O Orgulho Da Cidade, Urbanismo e invenção da beleza
Continuando com a comparação da
cidade medieval com a cidade contemporânea, se faz uma pergunta. Em que sentido a cidade é sinônimo de sociabilidade?(embora,
tenha se tornado hoje sinônimo de individualismo e de anonimato) Le Goff nos
mostra que na Idade Média existia uma “separação” da cidade, dita civilizada e
em ordem, do campo, colocado como local de rusticidade. E com essa ideia de cidade,
surgiu um desejo de construção em direção ao céu, partindo disso, o livro nos
mostra uma comparação de obras arquitetônicas de épocas diferentes, mas que em
ambas nota-se, uma verticalidade bem definida, as torres medievais de San
Gimignano na Itália, com a verticalidade da cidade atual de Manhattan.
Com tantas peculiaridades, a
Idade Media desenvolveu uma beleza artística urbana própria, que deu origem ao
que podemos denominar novo urbanismo, entretanto essa cidade medieval possuía outro
lado.
Começou a se criticar (principalmente
os religiosos) a cidade que diferente da cidade atual, não se preocupava com a
sua conservação, porém, existia uma espécie de orgulho urbano que os moradores
dessas cidades desenvolveram a partir de uma sobreposição do que se tinha como
cidade ideal (sonhada e imposta pelos detentores do poder) e a cidade real.
Nessa época, ocorria uma super
Valorização das terras e dos imóveis que ficavam “protegidos” pelas muralhas, e
essa ideia de cidade sonhada, trouxe consigo uma visão da cidade como lugar de
beleza e prazer, onde seus habitantes cada vez mais exaltam as qualidades dessa
dita cidade.
No livro mostra um exemplo dessa
forma de visão, uma carta da Universidade de Toulouse com a intenção de mostrar
o que seria atrativo na cidade paras as pessoas que ali viviam que a cidade
tinha um ar mais puro, que existia uma preocupação com a higiene, que tinha
água em abundância, mercados sempre abastecidos e mulheres boas e calmas, ou
seja, em resumo a ideia deles era que Toulouse era uma cidade ótima de se
viver, oferecendo diversão, um local de sociabilidade.
“É a sociabilidade, o prazer de estar com o outro, que estabelece em
definitivo, a diferença urbana, a urbanidade”.
Se analisarmos as sociedades mais
antigas, como por exemplo, Roma, nota-se que desde esta época criou-se, do
ponto de vista cultural, um contraste acentuado entre cidade e o campo, e a
partir disso, surgiu os termos que referem-se à cidade como lugar de educação,
cultura, elegância e dos “bons costumes” .
A palavra urbanidade vem do latim: urbs polis, da polis grega.
Essa visão de menosprezo pelo o
que é do campo, colocando-o como lugar bárbaro, rustico reforçando de forma
ativa a ideia de que os camponeses seriam rudes e até mesmo pessoas ricas, como
os senhores feudais, que preferissem o campo á cidade são ditos bárbaros, tudo
isso denota traços de uma herança de povos antigos de origem latina. Em meio a
isso surge mais uma variável de oposição cidade-campo, a floresta, que seria
pensado como um lugar mais selvagem e hostil que o campo, pois apesar de tudo,
o Campo ao menos era habitado, existe de certa forma uma visão, que o campo
seria o reflexo da cidade, já que a mesma domina o campo (economicamente) já
pensando na floresta essa relação não existe, posto como um lugar irredutível,
local de bandidos e sinônimo de solidão.
Le Goff nos mostra que é
perceptível também que, o cristianismo na Idade Média era bastante instável,
variando sua visão da cidade entre ser um polo de radicalidade solidária entre
um polo de civilização, pois nota-se que por anos a operação mais inovadora das
tais cidades, seria sua função cultural, que engloba escolas, as artes, o
urbanismo. Como é posto no livro: “...é na cidade e da cidade que eles
irradiam.” Deixando claro que a cidade adotou essa função cultural desde do tempo Medieval até os dias atuais,
mesmo que atualmente se tenha uma certa competição para se ter essa
responsabilidade, entre as cidades e os lugares extra urbanos.
A próxima pergunta apresentada a
Le Goff, seria como a pintura nessa época era representada, visto que tudo era
controlado por ordens mendicantes, o mesmo responde que a representação das pinturas se dava pelo o
imaginário do artista, como era de costume, representando os diversos lugares e
afins de forma positiva.
Mostrou-nos esse quadro do pintor
Ambrosio Lorenzetti de 1346, o qual simboliza a cidade ideal, imaginada pelo
povo da época, esse quadro é considerado a primeira representação de uma
paisagem urbana. Percebemos nesse quadro que o pintor cria uma cidade com uma
estrutura com predominância de linhas retas e planos geométricos, com
características arquitetônicas do estilo gótico, estilo este que ficou
conhecido como a arte das catedrais retratando o desenvolvimento das cidades.
Percebemos então que, nas cidades
atuais, perpetuamos poucos traços das cidades medievais, de forma direta, mas
herdamos a ideia de veduta, ou seja, o panorama urbano, cada coisa possui não
apenas uma representação, mas também vistas de uma mesma cidade.
Quando perguntado sobre se
trata-se de uma dificuldade em dominar a perspectiva, o fato da imagem que a
Idade Média dá de suas cidades, serem
normalmente estendidas para o alto, Le Goff diz que não pretende construir uma
historia preconceituosa em relação as sensibilidades, mas sim recordar do
orgulho urbano Medieval contido nessa necessidade de subir, principalmente as
catedrais, mostrando desta forma seu domínio sobre a cidade, expressado não
apenas de forma física mas também de forma cultural e econômica na cidade.
O autor complementa dizendo na
antiguidade a orientação fundamental do espaço, se dava por dois lados (direito
e esquerdo) e que sendo considerado o lado direito mais correto e representado,
e que na Idade Média, esse eixo de representação fundamental de orientação se
dá de baixo para cima, enfatizando cada vez mais a ideia de chegar a Deus não
apenas por meio da fé, mas também com construções cada vez mais altas.
A sonhada cidade medieval ideal,
vista como imagem, da forma real que a vemos, de modo prioritário na pintura, seria
a cidade atual de Manhathan.
Esse ideal de cidade trás consigo
uma necessidade que as famílias ricas da época desenvolveram principalmente nas
cidades onda a nobreza estava, que seria possuir a torre mais alta do que as
dos outros, sendo esse fato status de poder, assim como ocorre nas cidades
atuais como Manhathan, realizando deste modo uma forma das mais poderosas da
imaginação medieval: a verticalidade.
A cidade Medieval cresceu em
altura, mas também, existiam construções subterrâneas como no caso de Paris que
era construída sobre a exploração e a escavação de jazidas. Logo no começo do
século XIV, as pessoas mais ricas eram os detentores dessas jazidas e pedreiras
subterrâneas.
Vale salientar que, esses
subterrâneos tinham usos variados, não apenas do tipo troglodita, sendo
construídas nesses locais até capelas.
Existia uma ambiguidade em certos
conceitos difundidos nas cidades Medievais, depois da associação das alturas
das construções com a sua proximidade com Deus, percebe-se também que, a cidade
pode ser um lugar que agrade também ao demônio.
O livro nos trás posteriormente
que a cidade pode ser comparada com Sodoma e Gomorra.
Para o povo do medieval, sua
imaginação urbana percorria a imagem de Jerusalém, a dita cidade “boa”, e pela
Babilônia, a cidade “má”.
Le Goff diz que a ideia de que os
camponeses pudessem se revoltar contra a ordem da cidade não se encaixa, porque
nessa época não se media a exploração econômica da cidade sobre o campo, pois
quando camponeses revoltosos, por motivos rotineiros ou não, queriam mudar
algo, falavam diretamente com o burguês “progressista” e resolviam seus
impasses antes mesmo que tal problema chegasse aos ouvidos dos demais, e
interferisse na ordem e no modo de organização das cidades.
Quando se é perguntado se a
critica da cidade apenas era feita de cunho “espiritual”, Le Goff comenta que
essas criticas eram feitas sim com caráter religioso. A igreja via a cidade
como algo profano que consumia as virtudes espirituais principalmente dos
representantes da igreja como, por exemplo, São Martinho que frequentava
periodicamente o monastério afastado da cidade para “repor as energias”. Essa
forma de visão era bem difundida pela elite Medieval.
Quando perguntado sobre quando se
formou a ideia de percepção da cidade como algo que deveria ser preservado,
como testemunha da harmonia e que deveria ser conservado, Le Goff nos mostra
que a mentalidade do medieval era diferente do que temos hoje sobre patrimônio,
lá não se via a demolição de algo como punição, mas sim como uma mudança,
aliás, a cidade medieval vivia sendo alterada, dita lugar de renovação,
colocado como otimismo dinâmico urbano, “... a cidade é um lugar em que mais se
constrói, do que se conserva ou se destrói”. Isso se deve ao fato que as
pessoas dessa época não estarem tão apegadas na aparência das cidades, porque
eles viviam em constante mudança. A renovação das cidades era diretamente
ligada na renovação da população urbana.
Essa ideia de preservação do patrimônio
histórico se deu muito depois, essa inquietação sobre o futuro e sobre o que é
ou não importante para ser conservado, é uma invenção da modernidade
FONTES: GOFF, Le Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Unesp, 1998.
A formação do prodessor de história: idade média e imagens. Disponível em: http://www.ppe.uem.br/jeam/anais/2008/pdf/c010.pdf
por: Maria Rita Abreu
O Fim das Cidades Ou as Cidades sem fim
Se analisarmos o verdadeiro significado das cidades através dos
séculos, podemos perceber que esse não só vêm mudando quanto eles possuem o
papel de alterar o modo de pensar de toda a sociedade, as cidades em si é o
pressuposto das relações sociais e é em seu estudo que podemos definir o que
realmente demanda a sociedade contemporânea. As cidades atuais se desprendem
das definições tradicionais e as antigas cidades, principalmente as cidades
medievais estão sendo incorporadas ao sinônimo de patrimônios.
As cidades na atualidade se concentram na interfase entre os seus
antigos significados e os atuais. Para termos melhor noção precisamos entender
que as cidades medievais eram firmadas em uma função primordial que seria a
absoluta segurança de sua população, o que se explica elas serem cercadas de
grandes e densas muralhas, além de seu centro urbano ter uma função bem
definida, a de relações socioeconômicas, e assim as cidades eram unas com sua
população, pois possuíam apenas um único ponto o qual fazia total comunicação
entre a malha urbana.
As cidades agora se tornaram palco do capitalismo, do centro monetário
e do poder político, pois ao se voltar ao passado conseguiu-se perceber que a
relação política da sociedade medieval era em sua totalidade desmembrado das
grandes cites, o que remete aos palácios
e castelos, os fortes, locais próprios aos governantes.
Em contrapartida podemos citar as grandes metrópoles americanas como
Chicago a cidade do México, São Paulo que já foram comprovadas serem grandes
centros e representantes do capitalismo e que essa cidade teve seu centro
dissociado em subprodutos para atender a essa nova função, apesar dessas
cidades serem alvo de um árduo planejamento sejam eles voltados simplesmente de
como melhor distribuir a malha urbana, elas se tornam mais ilegíveis que as
cidades medievais e há como diferença entre esses dois tipos de cidades é que a
medieval é em sua bastante diversificada ao contrário das contemporâneas, pois
suas únicas diferenças seriam à mudança nos preços de seus produtos e dos
serviços que essas cidades têm a oferecer.
Esse crescimento descomunal das cidades atuais vem não só devastando os
centros das relações sociais, mas também as formas de comunicação entre o
espaço urbano e o espaço natural, de modo geral não se sabe se é a cidade que
invadiu a natureza ou a natureza invadiu as cidades e é com esses pressupostos
que conseguimos perceber e concluir quais as verdadeiras intenções que as
cidades nos remetem, quais suas principais dificuldades e como enfim resolvê-los.
FONTE: GOFF, Le Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Unesp, 1998.
por: Rafael Gonçalves
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